terça-feira, 13 de março de 2012

Álcool e drogas causam suicídios de jovens carajás, dizem lideranças

Só este ano, quatro índios adolescentes já se suicidaram e outros sete se mataram em 2011, segundo líderes indígenas ouvidos ontem pela Comissão de Direitos Humanos

A livre circulação de bebidas alcoólicas e drogas nas aldeias indígenas somada à falta de opções de estudo, trabalho e lazer para os jovens são as principais causas de suicídio entre os índios carajás no Tocantins, conforme lideranças reunidas ontem, em ­audiência pública, na ­Comissão de Direitos H­umanos (CDH). Os suicídios de quatro jovens carajás entre 14 e 17 anos nos dois primeiros meses do ano, além de outras seis tentativas no mesmo período e mais sete casos registrados em 2011, motivaram o debate, proposto por Vicentinho Alves (PR-TO). Ao falar aos senadores, ­Iwraru Karajá, cacique da aldeia Watau, relatou as mudanças ocorridas na Ilha do Bananal desde que os jovens índios conheceram bebidas alcoólicas e drogas, revelando ainda a falta de fiscalização na área.
— Não tem controle da entrada de bebida alcoólica e droga dentro das aldeias. [Traficantes] entram à vontade, as aldeias estão dominadas por drogas — disse, ao cobrar a presença da Fundação Nacional do Índio (Funai) na região e pedir mais segurança nas aldeias.
Ao comentar o assunto, Vicentinho Alves sugeriu a construção de modelo de segurança que atenda às particularidades das comunidades indígenas. Kohalue Karajá, coordenador de Assuntos Indígenas da Secretaria da Justiça e dos Direitos Humanos do Tocantins, concordou que o álcool e as drogas estão por trás dos suicídios. No entanto, ele disse que os casos também foram resultado de feitiçaria, observando ser essa uma questão cultural muito relevante para os indígenas. A falta de perspectivas nas aldeias, na avaliação de Marcos Terena, membro da organização não governamental Cátedra Indígena Internacional, tem origem nas perdas sofridas pelos povos indígenas no relacionamento com os não índios. Terena disse lembrar dos carajás como índios altos e fortes, bons nadadores e remadores. Para ele, é preciso prioridade para o resgate de valores ancestrais.
— E não podemos deixar de ouvir a sabedoria da mulher nas aldeias. Também é preciso valorizar a parte espiritual. A força dos pajés pode ajudar a recuperar valores ancestrais, para que povos indígenas sintam firmeza nas relações interculturais — disse.

Jornal do Senado

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