sexta-feira, 24 de abril de 2015

Sarney: 85 anos. Seu nome é conciliação


Por Said Barbosa Dib*


Hoje é aniversário de 85 anos do ex-senador e ex-presidente da República, José Sarney. Homem de cultura que, além de acadêmico, foi governador, deputado e senador pelo Maranhão. Presidente da República em momento delicado para o País, senador do Amapá por três mandatos consecutivos, presidente do Senado Federal por quatro vezes. São quase 60 anos de vida pública, sempre eleito, escrevendo a História do Brasil, convivendo com ataques de adversários e a admiração de amigos. Trabalhei com ele 13 anos. Poderia destacar características sobejamente conhecidas da sua personalidade, como a elegância e a sensibilidade no trato com as pessoas das mais variadas origens sociais, a memória extraordinária, a hipocondria quase acadêmica, a sensibilidade nas questões sociais e nacionais, a cultura refinada e a capacidade de trabalho exaustivo. Ou poderia falar da fina ironia, o bom humor criativo e a delicadeza e a paciência com que trata os atropelos dos adversários contra ele. Tenho muito orgulho de tê-lo conhecido. De conviver com ele. Aprendi muito. Mas quero destacar o essencial que sempre me impressionou: sua capacidade ímpar em lidar com conflitos, de administrá-los e transformá-los em força política para o progresso. Parece um judoca que usa a força do adversário contra ele mesmo. Sem esforço. Para quem conviveu ou compartilhou momentos delicados do cenário político brasileiro ao lado de Sarney, sabe o quanto é irritante a paciência com que lida com as mais variadas situações de conflito. Digo “irritante” porque sou daqueles mais passionais que não têm esta virtude. Na minha ótica a posição de Sarney tem que ter muito sangue frio e paciência. Mas, principalmente, Sarney tem arcabouço filosófico patriota, democrata e cristão bastante sedimentado. E nos dias que correm, em que o que nos separa parece mais importante do que aquilo que nos une, tempos em que interesses regionais, de classe, de raça e de gênero, por mais importantes, parecem suplantar o interesse nacional - a visão de Brasil, o sentimento de coletividade e de brasilidade -, tais virtudes são decisivas. O que se tem observado é a hegemonia sufocante da concepção baseada no “materialismo histórico e dialético” de Karl Marx, por incrível que isso possa parecer. Ideologia que tem como princípio maior não a valorização da noção de Estado-nação, o patriotismo ou a idéia democrática de respeito à ordem pública e à paz social, mas a “luta de classes”, o conflito. E o que seria uma pretensa fraternidade internacionalista “proveitosa” para o “proletariado expropriado de todo o mundo”. Ideologia que vê a democracia representativa como um “anacronismo burguês”. Assim, quando se analisa historicamente, por exemplo, a capacidade política da elite brasileira em administrar conflitos, num mundo saturado de revoluções, guerras, carnificinas e ódios, coloca-se a idéia de “conciliação”, sempre e a priori, como elemento necessariamente negativo, pois seria contra o velho princípio marxista do “quando pior melhor”, para que a “revolução” e “a emancipação dos trabalhadores” sejam viabilizados, portanto, evitando as rupturas estruturais. Tais concepções, hoje, são, infelizmente, hegemônicas nos manuais didáticos, tanto do Ensino Fundamental quanto do Médio ou Acadêmico. Se algum professor se atrever a destacar a capacidade de conciliação de figuras históricas como Sarney ou Joaquim Nabuco - e da elite política brasileira do Segundo Reinado -, como muito proveitosa para a Nação, logo será jogado na fogueira ardente do repúdio ideológico. Não se admite que tal característica tenha sido muito importante para que mantivéssemos nossa integridade territorial, a consolidação do Estado brasileiro e para que não nos tornássemos um mísero Paraguai. Não se considera a importância da capacidade de um líder como Sarney de administrar a situação explosiva em que a nação se encontrava no momento da transição democrática. Transição que ainda era amaçada por extremismos tanto à esquerda (revanchismo dos esquerdistas) quanto à direita (“Linha Dura”). Sarney, conciliador, democrata, negociador nato, tinha sido “esteio da ditadura”, sem choro nem vela, pois jamais se encaixou no estereótipo explosivo do revolucionário marxista. Segundo essa gente, Sarney teria feito uma coisa “horrível”: evitado o derramamento de sangue, o retrocesso totalitário ou a revolução. É hora de repensarmos isso. Sarney merece respeito e o País precisa se repensar. Repensar seus objetivos, suas prioridades. Precisa se reconciliar e procurar uma identidade. E tudo isso passa necessariamente pela valorização de nossas referências, nossos ídolos. Toda nação desenvolvida tem um ponto em comum inquestionável: o respeito, independente de ideologias e interesses específicos, aos seus líderes e figuras históricas, vistas sempre como exemplos a serem seguidos. Mesmo que saibam que fatores estruturais - como recursos naturais, posição geográfica ou condições educacionais e econômicas - tenham influenciado no desenvolvimento de suas sociedades, nenhum deles desconsidera o papel de suas lideranças políticas e intelectuais. O respeito a estes sempre permeia o “inconsciente coletivo” e fortalece o sentimento patriótico, por isso, são países desenvolvidos. 

No Brasil, país que há anos patina no grupo dos países “em desenvolvimento”, as elites, justamente porque são exageradamente impregnadas de concepções estrangeiras pseudocosmopolitas, têm verdadeira ojeriza a tudo que é nacional, menosprezam nossas realizações, nossos líderes, nossa História, impedindo que o “Sentimento de Pátria” se desenvolva como deveria. Como exilados em sua própria terra, geralmente, têm vergonha de suas próprias origens, tendem a ver o Brasil permeados de valores e sentimentos importados. Caem no erro de viver a própria História apenas como apêndice da História das nações hegemônicas. E não conseguem perceber os benefícios do verdadeiro patriotismo. Por isso, somos uma nação cada dia mais tutelada por forças estrangeiras. Sarney foi, na época em que alguns românticos assaltavam bancos e outros torturavam e matavam, durante a ditadura, o homem que tentava apaziguar os conflitos entre os brasileiros. Como político experiente, sabia que não seria através da radicalização e do “jogo de cena” de esquerdistas e direitistas que teríamos uma solução para o estado de exceção, como a História viria a demonstrar. Justamente por esta característica, mais tarde, soube enfrentar situação tão difícil como a morte de Tancredo e suas conseqüências políticas dentro do processo de redemocratização. De repente, alçado à frente de um processo que já vinha sendo negociado, discutido e mediado com cuidado pelo líder emedebista há anos, teve de assumir compromissos que não eram diretamente seus, posição de liderança que não esperava e não desejava. Mas, pensando no País, como agente moderador, Sarney se sacrificou. Enfrentou não somente as profundas dificuldades socioeconômicas herdadas, mas o perigo constante e ameaçador das forças antidemocráticas, tanto à esquerda quanto à direita, mas sempre negociando. Pensador e poeta engajado na luta libertária, na defesa das instituições democráticas, sempre teve na paciência e na perseverança as suas maiores virtudes. Virtudes que foram imprescindíveis para enfrentar as dificuldades que a Fortuna lhe reservaria a partir de abril 1985. A imagem que fizeram dele, no entanto, não foi nada honesta. Não havia qualquer clima favorável ou mesmo compreensão, por parte da mídia, para a necessidade, pelo menos, de se dar tempo para se construir a governabilidade. Teve que conquistar esta condição, a despeito da imprensa e dos que se diziam aliados. Ou seja, só pôde contar consigo mesmo, com boa-fé e sua extraordinária vontade política. Mas a coisa mais importante - e que a imprensa nunca esclareceu devidamente - e que, hoje, numa perspectiva histórica mais ampla é possível visualizar, é o fato de que Sarney acelerou efetivamente o programa de reformas anunciado pela "Aliança Democrática", cumprindo o prometido aos brasileiros. Retirou o chamado "entulho autoritário” da legislação: as medidas de emergência, a suspensão dos direitos políticos sem licença do Congresso, os decretos-lei, etc. Mesmo desaconselhado pelo jurista e amigo Saulo Ramos – este, temeroso de que as discussões políticas inflamadas influenciassem a governabilidade -, foi Sarney quem insistiu em convocar a Constituinte, verdadeira divisora de águas entre o passado de exceção e o caminho democrático. Os políticos da época, os mais envolvidos no processo, sabiam que mesmo Tancredo tinha dúvidas sobre a oportunidade em se convocar a Constituinte logo de início. Mas, por decisão de Sarney, naquele momento era criada a "Constituição Cidadã", esta mesma que durante os últimos anos vem sendo desrespeitada, vilipendiada, massacrada, adulterada e rasgada em prejuízo da democracia e do Brasil. Ao lado de JK, José Sarney figura entre os poucos homens públicos que sempre conseguiram conviver sem maiores traumas com a crueldade do dia-a-dia do jornalismo. Talvez a cultura humanista, a visão de futuro e a satisfação com a missão realizada, tenham sido o lenitivo que, nos momentos mais difíceis, fizeram com que o político maranhense, no exercício ou depois do poder, resistisse às pressões que, em outros períodos históricos, resultaram em tragédias. Ao contrário de Getúlio Vargas, que se suicidou, ou de Jânio, que renunciou, Sarney teve coragem e continuou. Como se vê, o peso maior não está nas mãos de quem parte, que se liberta da angústia da existência, mas de quem fica com as responsabilidades, principalmente se vindas de surpresa. Para Tancredo, merecidamente, a entrada no Panteão dos heróis nacionais; para Sarney, o peso terrível de ter sido obrigado a assumir seu Destino, com patriotismo e convicção. Tancredo não sabe do que se livrou. Sarney, com a missão já cumprida, espera do historiador, no dizer de Eduardo Galeano, “este profeta com os olhos voltados para o passado”, o reconhecimento justo para com um homem de boa-fé e coragem. E, claro!, conciliador. Parabéns presidente Sarney, pelos 85 anos de vida muito bem vivida.


* Said Barbosa Dib é historiador, analista político e, com muito orgulho, ex-assessor de imprensa do presidente Sarney

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Sarney e o Amapá: uma afinada relação de confiança e dedicação

No aniversário da capital, Sarney desponta como um dos maiores políticos que a história do Amapá já registrou



Na capa daquela primeira edição do Jornal do Dia, que chegou às bancas no dia 4 de fevereiro de 1987, os destaques eram os 229 anos de Macapá e a abertura da Assembleia Nacional Constituinte, feita em clima de euforia. A tal euforia era por conta do início da elaboração da sétima Constituição feita por constituintes eleitos pelo povo livre e direto. O então presidente José Sarney destacava a importância do momento: “esta Constituição deve ser atemporal”. Muita coisa mudou de lá para cá. Outras, porém, continuaram com seu mais alto grau de importância na história, como é o caso da trajetória política de Sarney e seus feitos pelo Amapá. Depois de mais de 60 anos de vida pública, José Sarney deixou no último domingo (1) o Senado, mas não a política. Passou para a história com um dos mais longevos representantes da classe política no País, onde galgou todos os cargos, desde vereador, passando por deputado estadual, federal, senador e finalmente presidente da República, assumindo o cargo na famosa crise institucional com a morte de Tancredo Neves. Por longos quatro anos, no Planalto, administrou com maestria política uma Aliança Democrática conduzindo o País num complicado antagonismo, mas sempre disposto ao diálogo, entendimento e participação equitativa nos ministérios. Ao deixar a Presidência da República e ainda potencialmente jovem para encarar outros desafios, através de um amigo sempre fiel, o ex-governador Jorge Nova da Costa recebeu o honroso convite para vir ao Amapá e aventar a possibilidade em disputar uma vaga para o Senado da República. Inicialmente sofreu forte resistência dos políticos locais, acreditando ser mais um “paraquedista” a desembarcar no novo Estado do Amapá. Com paciência e determinação pediu para visitar todos os pioneiros. E uns dos primeiros foram os nossos fundadores Otaciano e Irene Pereira, que inclusive, colocou o Jornal do Dia a sua disposição para divulgar suas ideias assim como fizeram com todos os outros políticos tucujus. Por conta de programas sociais quando presidente da República, como o “Leite do Sarney”. A grande quantidade de nordestinos vivendo na Linha do Equador, com destaques para os maranhenses que aqui chegaram para trabalhar na agricultura – vide o distrito de Carnot em Calçoene – e na plantação de pinus no Sul do Amapá, foi determinante para alcançar retumbante vitória. Usava bordões fáceis de entender como “O Amapá vai ter força no Senado” ou “Eu vim aqui para servir”, em célebres caminhadas nas ruas e apertos de mãos e abraços nos eleitores. Por três legislaturas em sequência Sarney mostrou sua “força” ao tirar o Amapá Estado de um grande apagão através do empréstimo das Usinas Termelétricas de Camaçari, numa generosa doação do amigo, governador baiano Antônio Carlos Magalhães. E daí por diante Sarney não só beneficiou o Amapá com grandes projetos como: a Área de Livre Comércio de Macapá e Santana (ALCM), Usina Termelétrica de Santana, Zona Franca Verde, Zona de Processamento de Exportação (ZPE), pavimentação da BR 156, pontes para o município de Mazagão e o Linhão e Tucuruí, prestes a ser interligado com o sistema amapaense, só para citar alguns dos seus muitos importantes projetos. Estrategista de escol, seu gabinete em Brasília sempre foi alvo de uma procissão e políticos de todo o Brasil. Sempre a espera de um minuto de prosa ou mesmo alguns outros em conversa visando beneficiar seus municípios, bastando para isso um telefonema de Sarney para um ministro ou mesmo para um presente se bancos oficiais e estatais, que dentro das possibilidades os pedidos eram atendidos. Recebia seus amigos do Amapá sempre logo no início do expediente, impreterivelmente. Por duas vezes assumiu a Presidência do Senado da República ajudando o presidente Lula por dois mandatos a governar o País. E fora da Presidência da Câmara Alta era o conciliador, o pacifista que o Planalto tanto usou e precisou. Como todo político tem uma vasta legião de amigos e correligionários e uma minoria que prefere considerá-los como adversários e não inimigos. Costuma relembrar uma frase épica do estadista Tancredo Neves, que leva consigo sempre, como: “O adversário de hoje pode ser o aliado de amanhã”. Mas mesmo com toda a paz do seu coração, seus poucos adversários no fundo o reconhecem como homem probo, inteligente, capaz e conciliador e mesmo torcendo ao contrário, pelo menos, uma vez na vida já precisaram dos bons conselhos e ajuda daquela velha “Raposa Felpuda” a política nacional. Hoje o Homem Sarney optou por ficar mais perto de sua fiel escudeira, Dona Marly Sarney, filhos e netos, com quem dividiu as alegrias e tristezas, mais a primeira que a segunda, abrindo mão daquilo que mais gosta de fazer: política. Vai ficar numa espécie de ponte aérea entre São Luís/Brasília/Macapá, onde continuará a receber seus amigos. Agora, além das conversas políticas, assuntos mais palatáveis como a respeito de seus inúmeros e memoráveis romances, boas recordações e para quem solicitar seus bons conselhos estará sempre disposto dá-los, isso partindo de quem já viveu o suficiente para mostrar o caminho retilíneo a que devam seguir. E nós aqui da Família Jornal o Dia nos sentimos honrados de fazer parte do círculo de amizade do presidente Sarney. E é assim que vamos tratá-lo daqui por diante. Volte sempre presidente e se sinta em casa. Nós aqui estaremos sempre de braços abertos, fraternalmente a receber a si e seus familiares.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Dilma tucanou de vez. Encarnou José Serra

Por Said Barbosa Dib*

Dilma vem enfiando os pés pelas mãos. Colocou ex-funcionário do FMI, empregado do Bradesco, o “chicago boy” Joaquim Levi, para dar empurrãozinho ladeira abaixo na já combalida economia brasileira. Em 2015 a recessão vem de mãos dadas com a inflação. E isso, ironicamente, depois de sua campanha contra Osmarina Silva ter acusado a candidata das ONGs internacionais de entregar a direção da economia nas mãos da herdeira do Itaú, a dona Neca. Trocou apenas de banco. A subserviência aos rentistas é a mesma. Sua arrogância e desrespeito para com a classe política é o mais grave. Fizeram com que seu governo perdesse feio na eleição para a Presidência da Câmara. A escolha do também arrogante e incompetente Aloysio Mercadante como articulador político é algo inexplicável. É o mesmo erro de alguns ex-presidentes derrubados no passado: menosprezar o Congresso. Dilma tinha sido muito injusta com o seu principal aliado no Congresso no seu primeiro mandato, o senador Sarney, nas eleições no Amapá em 2014. Agora, com total “desprezo e ingratidão”, cancelou a construção, pela Petrobras, da refinaria Premium 1, luta antiga de Sarney, cujas obras estavam em andamento em Bacabeira (53 km de São Luís). "O Maranhão recebeu apático uma decisão que é uma manifestação de discriminação, desprezo, ingratidão e injustiça. Que culpa tem o Maranhão pela corrupção e pela bagunça da Petrobras? Pagamos nós pela Lava Jato!", questionou atônito José Sarney. E com razão, pois a obra já gastou, desde 2007, R$ 1,8 bilhão, em valores não-atualizados. Quer dizer: Dilma tucanou de vez. Encarnou José Serra. Talvez por coisas absurdas como esta que Lula, que não é bobo, esteja cada vez mais longe da cria. Isto porque Serra odeia tudo que possa beneficiar o Norte e o Nordeste e todos aqueles que tentam acabar com as desigualdades regionais. Por isso detesta Sarney. O ex-governador paulista sempre foi contra a Ferrovia Norte-Sul, por exemplo. Foi assim quando como deputado, senador e ministro. Serra votou e agiu sistematicamente contra os interesses das regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste na Constituinte. Na votação do Orçamento de 1988, apresentou pedido de destaque para acabar com a Ferrovia Norte-Sul. Felizmente foi derrotado. Serra e o tucanato paulista são contra toda e qualquer medida que busque melhorar a situação social e econômica das regiões Norte e Nordeste. Por isso não têm votos por lá. Dilma, ironicamente salva nas eleições justamente pelo Norte e Nordeste (com grande votação no Maranhão) deveria respeitar mais o povo daquela região, seus eleitores. Não deveria dar uma de Serra. Deveria, sim, seguir exemplo justamente de Sarney. Ao invés de punir o povo do Maranhão por causa das lambanças de seu governo na Petrobras, deveria apoiar projeto de Sarney que cria o “estatuto jurídico da empresa pública” para controlar melhor as estatais. Simples assim! É o PLS - Projeto de Lei do Senado, Nº 207, que se arrasta desde 2009 no Congresso, sem qualquer apoio de Dilma. A proposta seria de grande valia neste momento de crise da Petrobras. Como o estatuto ainda não foi instituído (após quase 26 anos da promulgação da Constituição), a Petrobras vem se utilizando de decreto-lei de 1998, do governo tucano, que permite à estatal "celebrar contratos milionários" sem licitação. Isso certamente possibilitou os atuais desvios. Além de obrigar a transparência nas indicações para cargos e nas contas estatais, o projeto cria regras que garantem a sua função social, pois estabelece que as estatais tenham que “desenvolver produtos e serviços para a população de baixa renda, combater a desigualdade regional” e se preocupar com “a inclusão ou atendimento aos deficientes físicos e mentais”. As estatais teriam de reservar parte do lucro, no mínimo 10%, para essas atividades. Outra sugestão é que as estatais nunca gastem em verbas publicitárias valores superiores aos que destinarem as iniciativas sociais. Por que Dilma, ao invés de reprimir investimentos da Petrobras no Maranhão, não aproveita o projeto de Sarney para sanear a estatal? O ex-presidente tem razão em se indignar: “Que culpa tem o Maranhão pela corrupção e pela bagunça da Petrobras?”. Eu respondo: nenhuma. A culpa está na falta de apoio de Dilma a projetos que pudessem efetivamente criar controle sobre os gatunos que assolam o patrimônio público.

 * Said Barbosa Dib é historiador, analista político e, com muito orgulho, assessor do ex-senador José Sarney


segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

José Sarney: “Esperança e Protesto"

O Maranhão recebeu apático uma decisão que é uma manifestação de discriminação, desprezo, ingratidão e injustiça: cancelaram a construção da grande Refinaria Premium da Petrobras em Bacabeira. Já tornei público meu protesto, minha revolta e minha incompreensão. O Maranhão esperou 30 anos por um grande projeto de estrutura de base, para mostrar que o Brasil não pode continuar a ser dois Brasís, um rico e um pobre. Grita-se, censura-se, responsabilizam pessoas pelo IDH, um índice de país rico que não expressa nada, a não ser o beau geste do primeiro mundo para dizer que se preocupa com questões sociais. Mas na hora de fazer ações concretas para acabar com as desigualdades regionais – matéria que é um dos “objetivos fundamentais da República”, segundo a Constituição, não se tem é colocado nas prioridades nacionais. Os fundos de participação dos estados são contidos em limites precários, incapazes de fazer a diferença. Não há incentivos efetivos aos empréstimos dos bancos de desenvolvimento, como taxas de juro diferenciadas das dos estados ricos. A área econômica do governo é indiferente, ou mesmo hostil, a medidas que possam fazer os estados pobres competitivos, capazes de atrair investimentos que normalmente vão para os estados ricos. E se fala em guerra fiscal! Como se isso pudesse alterar realmente o imenso desequilíbrio entre as regiões. O Maranhão já fez muito. Conseguiu grandes investimentos privados, não por ter o apoio federal, mas por ter condições de competitividade, como o Porto do Itaqui, velho sonho que tornamos realidade e que nos aproxima dos mais importantes mercados do mundo, como a descoberta do gás em terra, responsável pela produção, até 2015, de dois mil megawatts, sem os quais o racionamento rondaria o país. Mas neste mês fatídico o Maranhão desceu ladeira abaixo. Deixou de ter ministros, perdemos o Ministério de Minas e Energia e o do Turismo e não temos mais uma voz forte para fazer a defesa de nossa gente, em cargo nenhum da República. E agora destroem o sonho em realização da Refinaria do Maranhão e mandam colocar os dois bilhões que já gastaram em perdas. Investir no Maranhão é perda. Que culpa tem o Maranhão pela corrupção e pela bagunça da Petrobras? Pagamos nós pela Lava Jato! Eu não aceito essa decisão de acabar com a refinaria em nossa terra. Falta de dinheiro na Petrobras! Por que não abrir a empresas estrangeiras a construção? Aí estão capitais chineses, americanos, ingleses, holandeses, sauditas, árabes e tantos outros. Posso não estar mais vivo, mas sei que, se mantivermos a luta, classes empresariais, povo, governo, todos unidos, essa decisão será revertida e um dia vamos ver a refinaria do Maranhão. Vamos repetir Barroso: “Sustentem o fogo que a vitória será nossa”. No nosso caso, a esperança e a luta.



José Sarney foi governador, deputado e senador pelo Maranhão, presidente da República, senador do Amapá, presidente do Senado Federal. Tudo isso, sempre eleito. São mais de 55 anos de vida pública. É também acadêmico da Academia Brasileira de Letras (desde 1981) e da Academia das Ciências de Lisboa.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Ao deixar a política partidária, Sarney lembra contribuições e apresenta sugestões para o futuro


Fim da reeleição, implantação do parlamentarismo, penas mais duras para crimes contra a vida e limites para doações eleitorais. Apesar de estar deixando a política, o senador José Sarney (PMDB-AP) não se furtou de opinar sobre vários assuntos, ao fazer seu último discurso no Plenário do Senado, nesta quinta-feira (18). Sarney lembrou realizações de seus mandatos, fez várias sugestões para a vida política e social do país e recebeu homenagens de colegas senadores. Para Sarney, é preciso criar cláusulas de barreira para os partidos. Segundo o senador, é importante evitar a proliferação de legendas que “só servem para negociações”. Ele afirmou que 80% dos partidos são dirigidos por comissões provisórias – que não representariam nem o partido nem a sociedade. Acrescentou que os partidos precisam valorizar a democracia, realizando eleições internas. Sarney defendeu o voto distrital misto e o fim da reeleição, com mandatos de cinco ou seis anos para o Executivo. Ele pediu o fim das medidas provisórias e uma solução definitiva para o financiamento de campanha – com um valor limite de referência para as doações. Apesar de ter voltado à política após deixar a presidência da República, Sarney disse acreditar que os presidentes deveriam ser proibidos de exercer qualquer cargo público, mesmo que eletivos, após finalizarem o mandato. Ele registrou que se arrependeu de ter voltado à vida pública e disse que um ex-presidente deve ficar acima dos conflitos e se dedicar a unificar o país. Sarney também pediu a implantação do parlamentarismo no país, como “um dispositivo contra as crises” e defendeu penas mais graves para crimes contra a vida.
— A vida é o bem maior que Deus nos deu e o homicídio ainda não é crime hediondo — criticou, pedindo também mais investimentos no combate às drogas.
Para o senador, a educação precisa passar por uma reformulação dos currículos, com incentivo à formação e capacitação de professores e mais investimentos em tecnologia e inovação. Sarney também prometeu reapresentar um projeto de Estatuto das Estatais, como forma de proteger o patrimônio público contra escândalos como os que estão ocorrendo com a Petrobras. Sarney ainda defendeu um projeto de sua autoria, que está parado na Câmara e regulamenta o artigo 245 da Constituição, que cria o fundo nacional de assistência às vítimas (PL 3.503/2004). Ele lembrou que existe o auxílio-reclusão, mas os que são vítimas “não têm direito a nada” e alguns “têm direito só à eternidade”. Ele admitiu que ainda “tem apreensões” e criticou o ódio que vem se apresentando na sociedade, após as últimas eleições.
— É hora de conciliar o país. Tenho visto algumas manifestações exacerbadas aqui no Congresso. A política é democrática. Passadas as eleições, o país deve buscar um terreno comum, o bem público — declarou o senador, dizendo que o Brasil precisa de mais sonhos e utopias.

Trajetória

Aos 84 anos, Sarney deixa a política depois de três mandatos de senador pelo Amapá. No discurso, ele relembrou sua trajetória de homem público, desde quando era deputado federal, na década de 1950, até chegar aos vários mandatos no Senado, passando pelo governo do Maranhão e pela Presidência da República. Sarney lembrou que tem 60 anos de vida pública – o que o torna o parlamentar mais longevo da história do país. Ele agradeceu a confiança do povo do Amapá e do Maranhão, o que lhe permitiu vários mandatos, e a todos os demais brasileiros, pela oportunidade de presidir o país. Segundo Sarney, o Maranhão é o 16º estado do país em produto interno bruto (PIB), com crescimento econômico anual de 10,3%, índice comparável ao da China. Esses números, registrou o senador, são bem diferentes dos que encontrou em 1966, quando assumiu o governo do estado. Já no Amapá, iniciativas de Sarney levaram um hospital da Rede Sarah e uma universidade federal ao estado, que também conta com uma zona de livre comércio consolidada, duas hidrelétricas em construção e uma em funcionamento, além do Linhão de Tucuruí, empreendimento que também vai levar a fibra ótica ao estado. Segundo o senador, esses fatos mostram que a situação atual é muito melhor do que a encontrada há alguns anos. Como presidente da República, Sarney lembrou que foi o autor do projeto que assegurou às pessoas com aids o recebimento gratuito de medicamentos e da proposta de cotas para negros. O senador destacou iniciativas no setor cultural, como a Lei de Incentivo à Cultura, que já é uma realidade, e a Política Nacional do Livro, que está em análise na Câmara dos Deputados. Ele apontou a cultura como sua principal causa legislativa e disse que passava “essa bandeira” à senadora Marta Suplicy (PT-SP), que foi ministra da Cultura. Sarney reconheceu as dificuldades da vida pública, mas disse que fez muitos amigos na política.
— Deus me poupou do ódio, da inveja e do sentimento de vingança — afirmou.

Futuro

Sarney afirmou não temer pelo futuro político da família e lamentou a falta de grandes lideranças nacionais. Ele disse que não “tem mais futuro e só tem passado”. Prometeu reler seus livros e disse que, na sua idade, o gosto da releitura se torna melhor do que o da leitura inicial. Sarney ainda admitiu que, “infelizmente”, a política o levou para caminhos distantes da literatura.
— Deixo no Senado uma palavra: gratidão. Saio feliz, sem nenhum ressentimento. Ai, meu Senado, tenho saudades do futuro — concluiu.

Agência Senado

Leia também:

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Inaugurada exposição sobre a trajetória de José Sarney na Biblioteca do Senado

Livro escrito pelo jornalista Frota Neto traz um recorte sobre a vida do presidente Sarney

A exposição José Sarney: o homem, o político, o escritor foi aberta na noite desta quarta-feira (10) com a presença do senador, ex-presidente da Casa e ex-presidente da República.  A noite contou ainda com o lançamento do livro As Batalhas na Guerra da Transição Brasileira - Sarney, democracia e liberdade, do jornalista Frota Neto. De acordo com a coordenadora da Biblioteca Acadêmico Luiz Viana Filho, Helena Celeste, a ideia da exposição surgiu após o homenageado anunciar a aposentadoria. Um grupo de servidores, que desejava agradecer ao político pelas intervenções feitas por ele em prol da estrutura interna da Casa e pelo bem-estar dos servidores, idealizou e materializou a mostra.
- Não poderia haver berço mais apropriado para sediar esta homenagem do que a Biblioteca do Senado. Não apenas, por Vossa Excelência ser o intelectual e um homem das letras, mas pelo fato da informação e da cultura sempre terem recebido o vosso incondicional apoio nesta Casa – disse a coordenadora se dirigindo ao senador.



O coral do Senado prestou uma homenagem inesperada. Misturados aos outros convidados, os coralistas surpreenderam o público ao começarem a cantar, acompanhados pela pianista Duly Mittelsedt, em agradecimento pela criação do grupo.
José Sarney agradeceu a homenagem, emocionado e com a voz embargada. No discurso de mais de vinte minutos, relembrou a época em que foi presidente da República (1985-1990) e das dificuldades e da rejeição que sofreu. Disse que o livro do amigo Frota Neto é um recorte político do momento e traz os embates e os conflitos enfrentados pelo governo Sarney para remoção do então chamado “entulho autoritário”.
- Sarney apanhou dia e noite. Uma sucessão presidencial com oito concorrentes, todos achando que o que daria voto era insultar o Sarney e apontar os erros que ele tinha cometido. Ninguém se lembrava da dificuldade que sofremos para conseguir a Constituinte. Eu fui um presidente escolhido para ser deposto, como muitos presidentes no Brasil. Dr. José Sarney teve que sobreviver sorrindo. Todo mundo dizendo: o presidente é muito fraco e eu digo: Eu sou fraco para que o povo brasileiro e a democracia nossa possa ser forte – contou em terceira pessoa o senador.
O livro de 480 páginas, da editora Rígel & Livros Brasil, foi autografado após a  cerimônia de abertura.  A mostra organizada pela Biblioteca Luiz Viana Filho com o apoio da Secretaria de Editoração e Publicações do Senado fica exposta até o dia 25 de dezembro.

Agência Senado

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Said Barbosa Dib: “Fascistas a serviço dos especuladores atacam Sarney para atingir investimentos sociais”

José Sarney foi governador, deputado e senador pelo Maranhão, presidente da República, senador do Amapá por vários mandatos, presidente do Senado Federal por diversas vezes. Tudo isso, sempre eleito, aclamado pelo povo e com ficha limpíssima. São mais de 55 anos de vida pública. Homem que, em qualquer país civilizado, seria herói. Mas grupelho pago de fascistas canalhas da pior espécie, disfarçados de manifestantes, tentaram impedir o timoneiro da transição democrática de descer do carro, entrar no Congresso e exercer seu mandato constitucional. Foi na quarta-feira (3), início dos debates sobre o famigerado “superávit primário”, aquele mecanismo espertalhão de banqueiros e rentistas criado pelos tucanos – e mantido pelos petistas - para tirar dinheiro dos investimentos sociais para pagar juros estratosféricos para os agiotas apátridas de plantão. Queriam impedir, pela força, pela agressão, que Sarney se posicionasse sobre o assunto. Sarney que, no seu governo, jamais aceitou políticas públicas recessivas que sacrificasse trabalhadores, nem falta de recursos para as políticas sociais que criou e muito menos repressão aos trabalhadores. E o pior é que os fascistóides energúmenos não têm nem uma boa causa para dizer que “os fins justificam os meios”. Segundo Rodrigo Ávila, economista da Auditoria Cidadã da Dívida, a LRF (Lei de “Responsabilidade” Fiscal) que eles imaginam que seja algo de bom é uma farsa canalha, pois pune gastos sociais necessários, mas permite e estimula desperdícios financeiros do Estado para garantir a farra da turma dos bancos. Quer dizer: se um prefeitinho do interior deixar de pagar dívidas financeiras, vai para cadeia; se deixar a populacao sem saúde, educação e limpeza   Publica, nada acontece. O economista Ávila diz que a LRF “não serve para ordenar os gastos públicos no Brasil, uma vez que apenas limita os gastos sociais, não estabelecendo nenhum limite ao gasto responsável pelo verdadeiro rombo nas contas públicas brasileiras: a questionável dívida pública”. Segundo o economista, “neste ano, até 25/10, o pagamento de juros e amortizações da dívida federal já consumiu R$ 910 bilhões, o que representa nada menos que a metade de todos os gastos da União até esta data”. Em artigo, esclarece que o Projeto de Lei enviado pelo Executivo ao Congresso não corrige este problema, mas apenas visa zerar (ou tornar levemente negativa) a meta do chamado “superávit primário”, cuja metodologia de cálculo envolve apenas parcela do orçamento, ou seja, é o resultado da diferença entre as chamadas “receitas primárias” (principalmente os tributos e receitas de privatizações) e as “despesas primárias” (os gastos sociais), para fazer parecer à sociedade que o problema das contas públicas seria um suposto excesso de gastos sociais (por exemplo, as aposentadorias, pensões, etc), ocultando completamente os gastos com a dívida. Mas a turma que agrediu o carro de Sarney, a serviço de tucanóides golpistas da vida, sob uma análise mais realista, talvez tenham tido suas razões em impedir que Sarney chegasse ao Plenário da Câmara naquele dia.  Eles sabiam quem é e o que pensa Sarney. Sabiam que o maranhense é e sempre foi defensor intransigente de políticas sociais de inclusão. A opção de “Tudo pelo Social”, no seu governo, refletiu o empenho em voltar o Estado para os mais humildes. O Programa do Leite simbolizou, em seus números, o gigantesco esforço que se fez: 1 bilhão e 300 milhões de litros distribuídos a 7,6 milhões de famílias. O vale-refeição tinha 18 milhões de beneficiados por dia; o vale-transporte, 26 milhões. Criou-se o seguro-desemprego. 58 milhões de crianças passaram a ser atendidas diariamente pela merenda escolar. A farmácia básica do CEME chegou a 50 milhões de pessoas. A área irrigada aumentou em 1 milhão de hectares. A cultura tornou-se um desafio do governo. A pesquisa científica, recebendo apoio incondicional — foram dadas 133 mil bolsas de estudo, mais do que em todos os anos anteriores do CNPq juntos —, alcançou resultados importantes no enriquecimento do urânio e domínio da água pesada, com fibras óticas e de carbono, com lasers de alta potência. Foi criado o IBAMA e iniciada a defesa sistemática do meio ambiente. O Calha Norte marcou nossa soberania sobre a Amazônia... Por tudo isso, os fascistas tucanos não o queriam em plenário ontem, debatendo assunto tão importante para o futuro do Brasil.


Said Barbosa Dib é historiador e analista político em Brasília

Sarney recebe homenagem da Comunicação Social do Senado


Dezenas de servidores do sistema de comunicação do Senado reuniram-se nesta quarta-feira (3) para prestar homenagem ao senador José Sarney (PMDB-AP), considerado o parlamentar responsável pela criação da estrutura de comunicação social da Casa. O local escolhido foi um dos estúdios da TV Senado, criada na primeira gestão de Sarney como presidente da Casa, e emissora pioneira no Legislativo brasileiro. Durante quase duas horas, o senador, que é o parlamentar de carreira mais duradoura no Congresso Nacional, e que encerra seu mandato em janeiro, ouviu pronunciamentos de homenagem que resgataram a história de implantação da TV Senado e reforçaram a importância do sistema público de comunicação. O próprio Sarney confirmou o esforço que foi necessário para tirar do papel a ideia de TV Legislativa, muitas vezes enfrentando a desconfiança dos outros senadores.
— O Senado passou a falar diretamente ao cidadão e esse ganhou a possibilidade de comparar os fatos transmitidos ao vivo na Casa com as versões do conjunto da mídia comunicativa — disse Sarney.
O senador prevê uma participação cada vez mais ativa da comunicação pública no exercício da democracia.
— Com o avanço da informática, nos encontraremos dentro de alguns anos em condições de retornar às raízes da democracia, podendo alcançar aquele ideal da democracia direta de que nos afastamos pelas dimensões dos Estados modernos — analisou.

História


A atual estrutura de comunicação do Senado – TV, rádio, jornal, portal de notícias na internet, relações públicas e marketing – começou a tomar forma no início dos anos 90, com o processo de redemocratização por que passava o país, em que a nova Constituição obriga a administração pública a investir em transparência e participação popular. A previsão da de um canal específico para a TV Senado, constante da Lei de Cabodifusão, é fruto dessa nova realidade. As operadoras de TV a Cabo passaram a destinar um canal entre os chamados canais básicos de utilização gratuita.  A TV Senado passou então a levar ao telespectador informações sobre o Legislativo e suas atribuições, com a transmissão ao vivo das sessões do Plenário e das comissões, o que não ocorria até então em nenhuma emissora. Também estiverem presentes à homenagem, o diretor da Secretaria de Comunicação Social do Senado, Davi Emerich,  e ex-diretores, entre eles, o jornalista Fernando Cesar Mesquita, em cuja gestão foi criada a TV Senado.
Agência Senado 

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

José Sarney: “O Futuro Presente”

A eleição contabilizou uma hipoteca séria que vai marcar o futuro governo: um país dividido. Drummond uma vez disse que vivíamos um “tempo de partido, / tempo de homens partidos”. Estamos divididos, na pequena diferença do resultado entre os candidatos, entre pobres e ricos, nordeste e sudeste, os bons e os maus. Construiu-se durante toda a campanha a retórica de uns condenados à perdição e outros à salvação. O Presidente Toffolli do TSE foi feliz em dizer que se criou um debate para escolher o menos pior, o que é uma injustiça criada pela mídia. Esse problema da divisão do país é uma herança amarga, que vai obrigar a Presidente a ter como tarefa principal conjurar o possível gérmen da desintegração. O sistema político terá que ser reformado ou recriado e será a tônica do novo mandato. A Presidente Dilma terá que ter a coragem de enfrentar o problema. Não será fácil. Enfrentará resistências de aliados e contrários. Mas está preparada para isso. Basta ver a garra e a força com que lutou e atravessou períodos de extrema dificuldade. A sua eleição foi obra do Lula. Sua vitória, “droit de conquête”. A democracia não se aprofundou depois da redemocratização. Avançou um corporativismo anárquico que foi beneficiando ilhas de interesses, gerando essa divisão que aflorou nas eleições. Avanço algumas ideias: acabar com o voto uninominal, que não permite partidos fortes ou a formação de lideranças. Graças a ele o parlamento desmoralizou-se, instituiu práticas condenáveis e perdeu legitimidade. Implantar o voto distrital misto, com distrito e lista partidária. Barrar esse arquipélago de partidos, que não possuem democracia interna, são cartórios de registros de candidatos, só servem para negociações materiais. Levar a sério o problema da reeleição, que precisa acabar, estabelecendo um mandato maior. Proibir os ex-presidentes de voltar a exercer qualquer cargo público, mesmo eletivo, opino com o exemplo do meu erro e arrependimento. Há uma compulsão de expandir poderes em muitos setores, que avançam tornando o país ingovernável. Resolver o grave problema de financiamento de campanhas, pois estabeleceu-se uma promiscuidade entre cargos, empresas e setores da administração que apodreceu o sistema. Uma modernização estrutural para melhor controle das estatais é urgente. As medidas provisórias deformam o regime democrático: o executivo legisla e o parlamento fica no discurso. As leis são da pior qualidade e as MPs recebem penduricalhos que nada têm a ver com elas para possibilitar negociações feitas por pequenos grupos a serviço de lobistas. A economia é o transitório, o institucional é o definitivo. Julgava que o Brasil tinha atravessado esse gargalo. Depois do caos da política brasileira tenho receio de que tenhamos um grande impasse pela frente. É hora de pensarmos no parlamentarismo e marchar em sua direção. Não dá mais para protelar. A Presidente Dilma marcará a História do Brasil se fizer essa transformação. Estou saindo da atividade política, a idade chegou, mas não posso perder a visão do futuro. Estamos no mundo da tecnologia e da ciência. O Brasil está atrasado — nossas últimas descobertas de ponta foram do meu tempo (enriquecimento do urânio, fibra ótica, fabricação de satélites, semicondutores). Gastamos mal na educação. Os avanços ficam por conta da agroindústria. A falta de reforma administrativa é responsável em grande parte pelo nosso emperramento. Temos tido grandes avanços. Consolidamos a liberdade. O país ficou mais justo e humano, avançou no social, mas a política regrediu. Dilma está preparada para esses desafios.
José Sarney foi governador, deputado e senador pelo Maranhão, presidente da República, senador do Amapá, presidente do Senado Federal. Tudo isso, sempre eleito. São mais de 55 anos de vida pública. É também acadêmico da Academia Brasileira de Letras (desde 1981) e da Academia das Ciências de Lisboa.

terça-feira, 28 de outubro de 2014

Coluna "Argumentos" - Cléber Barbosa

Madrugada

Agora que passou a eleição emergem detalhes e informações dos bastidores. A véspera da votação registrou muitas histórias que dariam não apenas um capítulo como aquele que o procurador da República Manoel Pastana escreveu sobre a “Casa do Totó”, mas um livro.

Embate

Segundo apuramos, por muito pouco não tivemos um confronto entre policiais militares e civis nas pontes, por conta de suposta ação de PMs em compra de voto na periferia. Fatos graves que merecem apuração.

Mulher

Nessa história envolvendo oficiais superiores da “briosa” PM, surgiu uma liderança que chamou os pares à razão e lembrou do juramento da academia e daquilo que se chama liturgia do cargo. Coronel Palmira.

Ao ponto

Agora é voz corrente que a fiscalização da eleição demorou muito a atender as denúncias de compra de voto. O balanço oficial aponta para uma “tranquilidade” que de fato não existiu, pelo que estão dizendo.

Feito

Mas pelo menos tivemos um resultado inquestionável, sem ações de impugnação, com a vontade do eleitor prevalecendo. O Amapá, afinal, teve a segunda maior diferença entre o eleito e o perdedor.

No rádio
cad4

A Diário FM não para e continua prestando serviço ao cidadão. No próximo sábado uma edição especial está sendo preparada, com integrantes da atual e da futura composição da bancada federal. Em pauta, os interesses do Amapá no Congresso Nacional agora e a partir de fevereiro.

Tomara

Sarney falou que na eleição é pra ter adversários e não inimigos, não foi? Pois é, e pelo que deu pra ver nas entrevistas de Waldez e Camilo os dois demonstram que podem fazer uma transição ao menos pacífica, institucional. Seria uma demonstração de maturidade política com grande contribuição à democracia.

Leitura

A jornalista Ana Girlene foi muito feliz ontem ao definir o resultado das urnas no domingo como um salvo conduto dado pelos cidadãos amapaenses a Waldez Góes. Sim, pois nenhuma das acusações contra ele foi comprovada e o processo se arrasta na Justiça. Dizem que o melhor julgamento é o das urnas.

Inovação

Entrevistado de domingo neste Diário, o jurista gaúcho Antônio Oliboni defende que a tecnologia dos smartphones já poderia estar sendo empregada pela Justiça Eleitoral. Seria um aplicativo onde o eleitor possa dar seu voto onde quer que esteja. Seria uma grande ferramenta.

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Waldez vence Camilo com diferença de quase 80 mil votos e é eleito governador

O governador eleitor recebeu a imprensa no Espaço JK, no bairro do Trem, e reafirmou seu compromisso de um governo em parceria com as prefeituras, buscando o desenvolvimento de todas as regiões do Estado.

O pedetista Waldez Góes, 52, foi eleito governador do após derrotar o atual chefe do Executivo estadual, Camilo Capiberibe (PSB), 42, no segundo turno das eleições. Seu principal apoio no pleito foi o senador José Sarney (PMDB). Em entrevista coletiva com a imprensa, logo após o anúncio de sua vitória pelo TRE-AP, Waldez agradeceu à militância e prometeu cumprir as propostas de campanha e os acordos com nossos aliados. E disse que vai fazer um governo voltado para o povo, em parceria com todos os municípios. Waldez, que já foi governador por dois mandatos consecutivos (2003-2010), recebeu o apoio do PR, do PRB, do PHS e do grupo político liderado pelas famílias Favacho - ligada ao PMDB - e Gurgel, que reúne várias siglas partidárias, para a disputa da reta final do pleito. O pedetista tentou conseguir o apoio da vice-governadora, Dora Nascimento (PT), e do Partido dos Trabalhadores. O presidente do PT no Estado, Joel Banha, disse que a legenda iria manter a aliança formada no primeiro turno, endossando a candidatura de Camilo. Durante a campanha no segundo turno, Waldez defendeu a criação de uma "central de licitações" para evitar e fiscalizar casos de corrupção nesses processos. O senador Sarney foi figura constante no palanque de Waldez. "Brasileiras e brasileiros que aqui se encontram, Waldez foi e será o futuro governador do Estado do Amapá", afirmou Sarney em diversas ocasiões, valendo-se do bordão pelo qual ficou famoso quando foi presidente, entre 1985 e 1990. Com 84 anos, 60 deles dedicados à vida pública, Sarney anunciou em junho deste ano que não tentaria reeleição ao Senado nem concorreria a nenhum cargo público.

Coluna "Argumentos" - Cléber Barbosa

Deu 12

Waldez Góes é o governador eleito do Amapá, para seu terceiro mandato. Foi uma vitória realmente histórica, valorizada pelo fato de estar sem mandato há quatro anos, quando seus adversários já o tinham como carta fora do baralho. Resistiu bravamente e venceu.

Sai o 40

Camilo reconheceu a derrota, disse que vai respeitar a vontade do povo e que deseja sorte ao vencedor. Mas, ao seu estilo, anunciou que a partir de janeiro vai estar na trincheira da oposição, cobrando as promessas.

Estrada

Na primeira entrevista coletiva, Waldez disse que vai percorrer o estado inteiro novamente, agora para agradecer o apoio popular. Depois disse que voltará a Macapá para tratar da transição do governo.

De fato

O novo governador disse que não vai esperar tomar posse para trabalhar. Disse que o Amapá terá mais dois meses de estiagem e a BR 156 precisa receber ações imediatas para evitar atoleiros no início do ano.

Elo

Outro anúncio importante feito por Waldez foi de que no relacionamento com os poderes será acima de tudo um legalista. “A Constituição diz que cabe ao Executivo fazer a mediação entre esses entes”, disse.

Humano
cad4
Waldez tem um enorme desafio pela frente, o de atender a gigantesca expectativa do povo em dias melhores. Mas carrega características que vão ajudar muito. Gosta de cuidar das pessoas e não nos parece caricato quando troca esse tipo de carinho com gente como essa idosa.

O cara

Outro personagem deste fatídico 26 de outubro foi Sarney. Quando anunciou que não disputaria nova eleição, disse que a política andava desestimulante. Mas ontem, nas entrevistas que concedeu, demonstrou estar mesmo é magoado com a maldade de alguns adversários. E os ataques sofridos.

O desabafo

Sarney chegou a elevar o tom das respostas dadas. Ratificou que a vitória de Waldez foi uma resposta “para aqueles que querem me ver pelas costas”. Depois disse que a única explicação para aquilo que chamou de infâmia contra ele, só pode ser explicada pela inveja. Tem longeva e brilhante carreira política e literária.

O líder

Indagado por jornalistas sobre o papel de Sarney no Amapá, Waldez disse que era a mais expressiva liderança que o Amapá já teve na história. “E o nosso estado nunca mais terá um senador que tenha seja membro da Academia Brasileira de Letras e ex presidente da República”, disse.

sábado, 25 de outubro de 2014

Sarney considera absurdos os ataques que sofreu na campanha eleitoral

O ex-presidente e atual senador José Sarney (PMDB-AP) reagiu com indignação aos ataques que vem sofrendo nos últimos dias na campanha pela sucessão estadual no Amapá. Coisas do tipo estar agindo para atrapalhar que recursos federais tenham sido liberados para tocar obras como o pavimentação da BR 156 ou mesmo suposta ingerência para impedir a conclusão da rodovia Norte-Sul foram rechaçadas com veemência por Sarney, que promete acionar a Justiça para os responsáveis pelo que chamou de infâmia sejam punidos.

Sarney percorreu várias ruas e avenidas da cidade nesta reta final da campanha eleitoral e disse ser sempre uma oportunidade para se enaltecer o esforço dele e de contemporâneos seus do Congresso Nacional nos idos de 1984, quando protagonizaram o movimento Diretas Já, que pedia a volta do direito do povo eleger os presidentes do país. “Acho fantástico o colorido das ruas e o envolvimento das pessoas, sejam os adultos, os mais moços e até mesmo os idosos como eu que fazem questão de colocar a melhor roupa no domingo e comparecer às urnas”, disse ele.

Provas 

Mas o que incomodou mesmo o ex-presidente foram os ataques gratuitos, a exploração na propaganda eleitoral e até mesmo terem atribuído a ele trabalhar contra o Estado. “Em todos os aspectos, jamais me apequenei a este nível, ao contrário, pensei e concebi grandes projetos, coisas para o futuro, tanto que estamos colhendo hoje esses frutos, com o porto, as estradas, as universidades e principalmente a energia, que vai levar o Amapá a ser protagonista de um grande destaque em toda a região Amazônica”, disse ele, que acrescentou irá exigir que provem o que estão afirmando. 
Sarney lembrou que as várias bancadas que o Amapá conseguiu formar em todos esses anos, podem testemunhar o quanto foi importante ter colocado o prestígio e o trânsito que possui a serviço do Estado. “Certa vez um jornalista perguntou a mim o porquê de eu vir pouco ao Amapá e respondi a ele que posso vir pouco, mas não tem um dia sequer que eu não trate do Amapá lá em Brasília, sejam com políticos, sindicalistas, servidores públicos e pessoas do povo que sempre tiveram no meu gabinete um ponto de convergência dos mais legítimos interesses do estado e sua gente. Ao Amapá dediquei meus melhores projetos”, finalizou Sarney.

Acompanhe

Clique para ampliar